As Sementes da Mudança

Receber informações sobre a saúde é ótimo. Mas “cá pra nós”, é mais interessante ainda conhecer alguns fatos históricos sobre tais informações, não é mesmo? Por isso vou contar uma pequena história (comprovada) antes de chegar ao assunto de hoje.
Em meados das décadas de 40 e 70 houve uma revolução que ao contrário de outras não provocou rebelião populacional ou derramamento de sangue; a chamada Revolução Verde que teve o grande objetivo de aumentar a produção de alimentos para acabar com a fome e desnutrição nos países mais pobres e populosos do mundo. O pai dessa revolução foi Norman Ernest Borlaug (1914-2009), um cientista e engenheiro agrônomo norte-americano. Sua pesquisa financiada pela Fundação Rockefeller e posteriormente pela Fundação Ford revolucionou a produção de alimentos por meio do cruzamento genético de sementes híbridas, primeiramente de trigo e arroz, e mais tarde de outros cereais. O pé de trigo, por exemplo, que originalmente possuía grande estatura, tornou-se “anão”. O melhoramento genético basicamente transferiu o potencial hormonal de crescimento da planta para a produção dobrada de grãos. Além disso, essas plantas apresentaram boas respostas a altas doses de fertilizantes e pesticidas, tornando-se resistentes às pragas.
O programa de produção desses alimentos modificados geneticamente ou transgênicos iniciou-se no México, estendeu-se para as Filipinas, Índia e outras regiões da Ásia, pelo continente africano e chegou ao Brasil no período da Ditadura Militar.
Devido ao contínuo aumento populacional e às questões político-sociais de sempre, a Revolução Verde (que hoje se tornou agronegócio) não cumpriu seu grande objetivo, visto que atualmente a fome atinge cerca de 820 milhões de pessoas no mundo.
Bem, esse assunto é extenso e não cabe em apenas um post. Na realidade, essa história foi para falar de um alimento considerado “vilão” por muitas pessoas na atualidade: a farinha de trigo!
Entenda:
A farinha de trigo, o centeio, a cevada e o malte, possuem uma proteína chamada glúten. Tenho certeza que você já ouviu esse nome. O glúten é formado por outras 2 proteínas menores, a gliadina e a glutenina, que juntas formam redes para prender os gases de fermentação nas massas de pães, bolos, biscoitos e outros produtos de padaria. Isso proporciona maciez e elasticidade às massas das guloseimas preparadas com trigo. É importante citar que o macarrão e outros produtos alimentícios também contêm glúten.
Acontece que nos últimos anos, alguns autores começaram a defender a hipótese de que a modificação genética do trigo lá na Revolução Verde resultou também no aumento considerável da taxa de glúten (principalmente de gliadina) na farinha de trigo que temos hoje. Baseados nisso, eles recomendam que as pessoas em geral adotem uma alimentação livre de glúten.
Mas qual a relação entre o glúten e a saúde?
Essa proteína pode despertar 3 tipos de reações indesejadas nas pessoas que a consomem:
- Doença celíaca (DC): foi descoberta há mais de um século. Pode se manifestar em qualquer pessoa que tenha predisposição genética e é diagnosticada por exames específicos. Nessa doença grave, o glúten provoca uma resposta imune exagerada que ataca o intestino e outros órgãos, podendo causar diarréia crônica ou intestino preso; azia, dor e inchaço abdominal; aftas, manchas nos dentes, perda de apetite ou vômito; anemia e desnutrição; irritabilidade e problemas neurológicos como epilepsia, autismo, esquizofrenia, déficit de atenção, hiperatividade, Alzheimer; ciclo menstrual irregular e abortos de repetição; problemas de crescimento, osteoporose e artrite; dermatite herpetiforme (doença de pele); diabetes e intolerância à lactose.
- Alergia ao trigo: nesse caso, outros componentes da farinha de trigo também dão início à reação imunológica. As manifestações ocorrem na pele (urticária, dermatite atópica); nos olhos; na boca; nas vias respiratórias (asma, bronquite e rinite).
- Sensibilidade não celíaca ao glúten (NCGS): é uma condição clínica que se manifesta através de sintomas semelhantes aos de doença celíaca e alergia ao trigo, mesmo com os exames negativos para essas doenças (DC e alergia ao trigo). Descoberta na última década, a NCGS ainda é uma questão de debate, pois não há nenhuma explicação científica para o quadro, bem como não existem exames para diagnóstico desses casos. Muitas pessoas apresentam sintomas de sensibilidade ao glúten, mas não se dão conta disso.
O tratamento básico para pessoas com essas 3 disfunções é a exclusão total de trigo, cevada, centeio e malte. A aveia também deve ser excluída porque normalmente é contaminada com trigo. No caso da NCGS, deve-se eliminar o glúten e observar a melhora dos sintomas.
Quanto às pessoas saudáveis e/ou que não se sentem mal com a proteína, não há comprovação científica suficiente para incentivá-las a abandonarem de vez o glúten. O que se sabe até o momento é:
- A NCGS pode ser confundida com outro tipo de alteração: a sensibilidade à FODMAP’s (esse assunto será abordado em outra postagem).
- O glúten não é necessariamente um responsável direto por casos de sobrepeso, como muitos acreditam. Esta afirmação acontece porque o glúten está presente em grandes quantidades em alguns alimentos calóricos, que ao serem cortados da dieta, provocam o emagrecimento.
- A eliminação do glúten para algumas pessoas pode até causar possíveis efeitos indesejáveis sobre a microbiota intestinal.
- A alimentação sem glúten pode ser saudável para a população em geral, desde que seja compensada com a ingestão de grãos integrais, sementes oleaginosas, verduras, legumes e frutas.
Portanto, conheça o seu corpo! Observe com atenção as reações indesejáveis que certos alimentos lhe causam e assim, procure um profissional específico para lhe ajudar a substituir aquele alimento por opções saudáveis e que tenham a mesma função nutricional.
Se você gostou de conhecer um pouco mais sobre alimentação, deixe seu comentário!
9 comments
Natalice Gomes paixão
31/03/2020 at 09:58
Muito interessante e de grande ajuda, como todas as postagens de nutrição.
Deus continue te abençoando ir, Mariana!
Joselia
31/03/2020 at 10:13
Artigo muito irmã
Deus ti abençoe
Isabel Almeida
31/03/2020 at 10:39
Bom dia! O segredo da cura (no sentido humano) está na alimentação e não na medicação (sem ser contra a medição , mas, muitos dos nossos problemas de saúde se corrigem com uma nutrição adequada.)
Então, se remédios não andam resolvendo tá aí uma boa hora de procurar ajuda nutricional ! Saudades dos irmãos!! Deus os abençoe!
Anderson gloria silva
31/03/2020 at 12:43
Bom dia Dr Mariana Deus a abençoe !
Escelente dica, devemos aplicar sempre a boa alimentaçao no nosso dia dia.
Mariane Oliveira
31/03/2020 at 23:50
Não é possível obter uma vida saudável sem antes procurar por conhecimento de fonte segura, a qual orienta no que é necessário para alcançar tal resultado.
Drª Mariana, obrigada por esclarecer sobre esta proteína (o glúten) que estamos sempre consumindo em diversos alimentos. Me ajudou muito!
Tiago José
01/04/2020 at 11:08
Conhecimento ajuda bastante em nossa qualidade de vida, como visto aqui, ‘As Sementes da Mudança’. Belo!
Marisa de oliveira costa Melo
01/04/2020 at 15:41
Gostei muito dessa postagem, nos ajuda a conhecer o que alimentamos.
Deus continue te abençoando irmã Mariana.
Obrigada!
Pingback: Como a Nutrição Pode Deixar a Sua Imunidade Mais Resistente? – Assim Está Escrito
Pingback: Você Se Preocupa Com Os Agrotóxicos No Prato? – Assim Está Escrito