“E vendo-a Judá, teve-a por uma prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto.” Gênesis 38:15
Não é assim, como Judá, que muitos de nós, por um longo período de tempo olhamos para Tamar? Mas, qual é a verdade acerca dessa mulher? Qual sua origem? O que pretendia ela, ao travestir-se de prostituta?
Judá foi o quarto filho de Jacó e Léia, e bisneto de Abraão. Antes de Jacó morrer, ele deixou uma bênção para cada um de seus filhos. Porém, quando ele foi referir-se a Judá, proferiu tais palavras:
“Judá, a ti te louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão. Judá é um leãozinho, da presa subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se como um leão, e como um leão velho; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos.”
Gênesis 49:8-10
Sabemos que foi através dessas palavras que a linhagem de Judá recebeu a realeza. E que foi essa a posteridade condutora do ventre que mais tarde veio a hospedar O Messias, O Leão da tribo de Judá, A Raiz de Davi. Muitos maravilham-se com a perfeição da manifestação escriturística que há no fato de Deus ter encarnado-Se e nascido na Carne-Jesus, na linhagem de Judá. E realmente isso é algo que deve trazer regozijo. No entanto, a aquiescência na manifestação das Escrituras referentes ao Plano da Redenção, só pôde ser íntegra pela ação de uma mulher sábia, que inspirada por Deus tomou a atitude correta e fez com que a casa de Judá fosse lembrada e respeitada dentre todas as casas da terra, como sendo a casa que Jesus nasceu.
Após Judá e seus irmãos terem vendido José como um escravo aos ismaelitas e midianitas, Judá afastou-se de seus irmãos e foi morar em uma cidade chamada Adulão. A cidade de Adulão era montanhosa e ficava à noroeste de Hebrom, o lugar que mais tarde veio a ser o refúgio de Davi (I Samuel 22:1) e além de ser montanhosa era uma das cidades reais dos cananeus, povo gentio. Lá, Judá conheceu uma mulher, filha de Suá, um cananeu, com quem uniu-se e teve três filhos: Er, Onã e Selá.
Passados anos, Judá casou seu filho primogênito, Er, com Tamar, ela era uma mulher gentia, de naturalidade cananita, isto é, ela era descendente de Canaã, que foi neto de Noé e filho de Cão, o homem que teve toda sua posteridade amaldiçoada por cometer um ato ilícito o qual desonrou seu pai. Por descender da linhagem de Cão, mesmo que sem saber, Tamar também estava sob esse jugo que seu ancestral havia lhe colocado. Judá uniu Er e Tamar através do casamento, para que assim seu filho mais velho pudesse dar prosseguimento a sua semente, cumprindo o que Jacó disse a respeito de sua posteridade (Gênesis 49:8-10). Porém, a união de ambos não durou por muito tempo, pois Er era um homem mau aos olhos de Deus e Ele o matou. Até então, buscando preservar sua linhagem, Judá instruiu seu segundo filho, Onã, a se casar com Tamar para suscitar a semente de Er, seu irmão falecido. Entretanto, Onã soube que a semente de seu irmão não lhe pertencia, e entrando ele à Tamar derramava na terra a semente, para que assim seu irmão não tivesse descendência.
Se observarmos, veremos que Onã cometeu o ato de impedir a semente fecundar o óvulo no ventre de Tamar, isso é, ele impediu uma vida de vir à existência. Ao fazê-lo, Onã usava o método contraceptivo mais antigo dos registros da história, o coito interrompido. Observando, constatamos que desde o princípio da linhagem de Abraão, Satanás veio tentando impedir que a semente real viesse a tona, mas, como ele não conseguiu fazer isso com Abraão, Isaque e Jacó, ele pensou que talvez fosse o momento correto para tentar outra tática: o método do controle de natalidade. Mas Deus abominou tanto a atitude de Onã, que cobrou-lhe um preço caro e ele teve que pagar com sua vida.
De acordo com os princípios da época, o esperado era que o filho mais novo de Judá, Selá, possuísse Tamar como sua esposa e entrasse à ela. Fazendo isso, ele estaria realizando o dever de cunhado e/ou levirado (um costume que veio a ser mais conhecido quando Moisés o declarou em Deuteronômio 25:5). Entretanto, como ele ainda era muito novo, Judá, com medo de que, assim como seus outros filhos, Selá fosse morto, ele instruiu Tamar a voltar a casa de seu pai e permanecer ali como viúva até que Selá fosse já crescido.
Passado já um considerável período de tempo, a esposa de Judá faleceu. Visto que sua esposa havia morrido, que ele já não tinha grande expectativa de casar-se novamente e ter mais filhos, de acordo com a lei, ele deveria entregar Selá à Tamar para que assim sua posteridade fosse garantida. No entanto, ele nada fez acerca disso, quem sabe Judá não estivesse um pouco desconfiado de que havia algo errado com Tamar, que o problema estava com ela e que talvez ela carregasse uma maldição. Mas essa atitude colocou seriamente em risco a sua posteridade, porque se ele não desse seu filho mais novo a Tamar, por certo, Selá tomaria para si outra mulher, descumpriria a lei e mancharia aquela posteridade, impossibilitando que Deus cumprisse Sua promessa feita através de Jacó a Judá e essa já não poderia mais ser a casa em que Jesus nasceria, porque seria algo fora da Palavra, fora do padrão de Deus e Ele jamais aceitaria. Tinha que ter um jeito, uma maneira de fazer as coisas acontecerem e neste momento, não interessava o custo, mas, sim, o benefício que viria após. E Tamar sentiu esse peso, essa responsabilidade sobre si. Sendo ela uma gentia, que por sinal carregava a maldição de semente, ela deu mais importância ao Plano de Redenção, do que o grande Judá. De alguma forma, ela sabia que a semente de Judá tinha um elo forte com a Redenção. Se muitos de nós olhássemos para as coisas que aparentemente nos “afetam”, com esse mesmo olhar, com essa mesma disposição, que Tamar teve ao buscar preservar a semente, por certo, teríamos a consciência do real valor de abandoná-las.
Sendo concluído os dias de luto, Judá, na companhia de seu amigo Hira, foi a cidade chamada Timnate para ver o trabalho de tosquia do rebanho. Algumas pessoas, que por certo conheciam Tamar e sua história, apressaram-se em dar a ela as novas de que seu sogro passaria por ali. Prontamente ela tirou suas roupas de viúva, vestiu-se de prostituta e foi sentar-se à entrada das duas fontes que ficavam no caminho de Timnate. Tamar entendeu que a semente não estava em nenhum dos filhos de Judá, eles não eram nem cananeus e nem judeus, eles eram frutos de uma mistura; ‘meio termo’. Deus não os aceitariam, a semente tinha que ser pura e vir da linhagem de Judá. Mesmo sendo um judeu, um filho de Abraão, Judá não viu isso.
E ao passar por ali, pela entrada das duas fontes, Judá à viu, teve-a por prostituta e pediu que ela o deixasse possuí-la. Quando ele o fez, ela o indagou dizendo: “Que darás, para que entres a mim? “ (Gênesis 38:17) e Judá lhe propôs como forma de pagamento um cabrito de seu rebanho. Se repararmos, veremos que a mão de Deus estava agindo estrategicamente ali; Judá poderia ter pago Tamar em dinheiro (por certo ele era um homem de posses) e/ou com qualquer outra coisa, mas, mesmo tendo outras possibilidades de pagamento, ele ofereceu-lhe algo que não estão em mãos naquele momento, o que deu a ela uma brecha para pedir-lhe ardilosamente um penhor, uma garantia de que ele voltaria para quitar sua dívida com ela, e isso foi: seu cajado, seu selo, e o lenço.
No antigo Oriente, o lenço, o cajado e o selo (também conhecido como sinete) eram meios de identificação. O selo e/ou sinete era um anel que tinha uma marca do próprio dono registrada. O lenço, que também é conhecido como cordão, era onde o selo ficava pendurado. De maneira que o selo era um anel de identificação esculpido em pedra ou metal que geralmente era pressionado sobre a superfície de argila úmida para confirmar um trato. E o cajado, assim como o anel, carregava a marca do possuidor. Quando um homem perdia esses três itens (cajado, selo e lenço), as pessoas o viam como um homem desdenhado, isto é, desprovido de dignidade, honra e sem identidade. Quando Tamar pediu esses três itens como penhor a Judá, ela sabia bem o que estava pedindo.
Não sabendo ele que, por hora, esse ato custaria sua dignidade, sua honra e sua própria identidade, conforme Tamar pediu, assim ele o fez. Como é descrito na Bíblia, após ter tido um encontro com Judá, Tama concebeu e vestiu suas vestes de viúva novamente. E quando Judá enviou o cabrito, como haviam combinado, já não encontraram mais a tal “prostituta”. Com o passar de aproximadamente três meses, as manifestações biológicas, que ocorrem no corpo e organismo de uma gestante, começaram a manifestar-se externamente e já não era mais possível esconder que algo havia acontecido. Quando as pessoas descobriram e foram até Judá, dar-lhe as novas de que sua nora havia ‘adulterado’, ele, cheio de arrogância, orgulho e até então, “cheio de honra”, furiosamente disse: “Tirai-a fora para que seja queimada.”(Gênesis 38:1b). Entretanto, Quando eles foram buscá-la, ela mandou dizer ao seu sogro: “Do homem de quem são estas coisas eu concebi. E ela disse mais: Conhece, peço-te, de quem é este selo, e este cordão, e este cajado.”. Reconhecendo Judá, que os pertences eram os seus, ele teve que afirmar o quanto ela era uma mulher justa e calar-se, pois naquele momento, ele percebeu que era um homem desprovido de dignidade, honra e identidade; ele havia entregado todas essas virtudes a ela, quando as deu por penhor. Tamar as possuíam e foram essas mesmas virtudes que somadas a semente de Judá, que estava em seu ventre, que garantiram-lhe sua dignidade, identidade, honra e vida. Sendo assim, como ele poderia julgá-la por buscar justiça, quando na verdade era desdenhado de sua própria honra?
Precisamos saber que o desfecho de toda a humanidade esteve ali, naquele instante, com aquela mulher. Lá no princípio, uma mulher, (Eva), pôs-se a perder toda a raça humana quando adulterou, porém, através de um “ato ilícito” uma mulher gentia, guardou em seu ventre o passado, o presente e o futuro de uma raça inteira. “Em pequeno grão está toda a história da espécie.” (Pr. Wanderley Lemos)
Muitos teólogos, dizem que essa parte das Escrituras (Gênesis 38), deveria ser tirada da Bíblia Sagrada, por julgarem ser uma situação inadequada ao restante das Escrituras. O que nos faz ver o quanto a mente humana está distante da realidade de Deus, porque a loucura de Deus é fraqueza para o mundo. As pessoas que tiram Gênesis 38 de suas Bíblias e por vez, de suas vidas, precisam anular todas as Escrituras seguintes, pois não se pode desvinculá-Las. Devemos entender que Tamar não se importou com que os outros disseram, ela tinha algo que nos falta as vezes; ela estava disposta a fazer tudo por Jesus, mesmo sem “conhecê-lo” e essa atitude deu a ela, uma mulher gentia, livre entrada em São Mateus: 1:3.
Se Tamar tivesse crido no que, por certo, as pessoas queriam induzi-la a crer, o choro de João Jamais seria interrompido em Apocalipse 10: 5:5, não haveria um Calvário, não porque Deus seria incapaz de fazê-lo, mas pelo fato d’Ele ser incapaz de descumprir sua Palavra.
Assim como Tamar, Judá não deve ser desmerecido, porque para manter Seu Plano íntegro, Deus usa pessoas que ao parecer das demais são desprovidas de integridade. E assim como Ele escolheu a ambos, de igual maneira nos escolheu para hoje darmos prosseguimento a esse Plano.
One comment
Tom Oliveira
14/10/2020 at 19:53
Amém. Sim, ao evangelho revelado por um profeta e endereçado aos crentes!